segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

''Entendendo um pouco mais ''

Os assexuais podem querer começar um relacionamento, mas não sentem desejo sexual. Eles podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais e manter um relacionamento, porém, é raro namorarem.
Os assexuais se sentem saudáveis, tem uma vida social ativa e acreditam que essa falta de desejo sexual é uma forma de identidade sexual.
Estas pessoas sentem a falta de desejo sexual desde o início do relacionamento. Alguns podem experimentar um período de desejo sexual alto e logo depois retornam aos níveis baixos ou nulos.
Portanto, seus relacionamentos se baseiam em outros pilares, tais como amor, romance, hobby e gostos comuns ou trabalho. Podem ter relações sexuais ou masturbação, mas não com muita freqüência. Muitas pessoas assexuadas esperam que ao longo do tempo, seus desejos sexuais se intensifiquem.
No entanto, a assexualidade pode ser um problema na relação. A maioria das pessoas que não são assexuais, podem se sentir preocupados ao ver que eles não são capazes de atrair o seu parceiro sexual.
Pessoas que sofrem de falta de desejo sexual rejeitam o fato de que esta assexualidade é um distúrbio psicológico ou uma doença. No entanto, alguns problemas podem estar associados a problemas de saúde ou efeitos secundários de medicamentos ou endócrinos, entre outros. Eles também podem ser causados ​​por distúrbios psicológicos, como traumas sexuais, problemas familiares, pouca estimulação ou a rotina entre outros.
Existem tratamentos médicos para aumentar o desejo sexual, mas muitas pessoas rejeitam porque não consideram ter um problema físico ou psicológico.



" Nossa bandeira da assexualidade''





''Feliz sem sexo''


                                                                         SEM LIBIDO André Romano, hétero e sem 
                                                                         sexo há sete anos, não sente desejo: 
                                                                                      “Sou feliz assim”



Feliz sem sexo

Os assexuais, pessoas que não sentem desejo, começam a assumir sua identidade

Suzane Frutuoso
Sabe aquela cena em que uma mulher escultural passa diante de um grupo de homens e todos se viram para olhá-la? Nesse momento, a mente deles viaja. O cérebro envia uma série de comandos que libera hormônios pelo organismo, avisando que é hora de se preparar para uma relação sexual (mesmo que isso não vá acontecer). Reação semelhante tem a mulher que é tocada e recebe beijos em pontos estratégicos do corpo. Mas na vida do escritor André Romano, 28 anos, nada disso faz sentido. O carioca passa dias de sol na praia de Ipanema diante de um desfile interminável de biquínis de lacinho e não tira os olhos do livro. “Não sinto desejo”, diz. “Troco o sexo por atividades culturais e sou muito feliz assim.” André se encaixa no que especialistas começam a chamar de quarta orientação sexual: a assexualidade. Além dos héteros, homos e bissexuais, os assexuais formam uma outra vertente da sexualidade, que não é nova. Apenas as pessoas sem desejo de fazer sexo estariam finalmente assumindo um traço de sua personalidade – até como resposta à pressão por um desem.
Uma pesquisa do Projeto Sexualidade (Prosex), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo de 2004, revelou que 7% das mulheres e 2,5% dos homens não sentiam falta de sexo. Os dados se repetiram durante o estudo Mosaico Brasil, que terminou no ano passado e entrevistou mais de oito mil participantes em todo o País. Ambos os trabalhos foram coordenados pela psiquiatra Carmita Abdo, que diz ser absolutamente possível alguém viver sem sexo e não sentir falta dele. “Quem transa diariamente não é mais normal do que aquele que não transa nunca”, diz ela. “Não é uma opção, como o celibato, nem doença. É parte do perfil do indivíduo.” A Organização Mundial de Saúde inclui o sexo como um dos indicativos da qualidade de vida, ao lado de itens como atividade física e alimentação equilibrada, desde que seja seguro e prazeroso. “Fazer sexo obrigado é que acaba sendo negativo”, diz Carmita.
Os assexuais (que podem ser tanto héteros quanto homossexuais) não deixam de lado os relacionamentos amorosos. Acreditam, porém, que carinho e romantismo são suficientes para levar uma relação adiante. Romano não faz sexo há sete anos e diz que nunca teve uma decepção a ponto de desistir do envolvimento com alguém. “Namorei cinco anos. O sexo era maravilhoso. Mas, quando acabou, não senti falta. Tenho sentimento, não tesão”, explica.
A internet, com seu poder de agregar pessoas com interesses comuns, foi fundamental para tirar os assexuais da invisibilidade. No Orkut a professora Sandra Ramos, 24 anos, de Santa Catarina, percebeu que outras pessoas compartilhavam dessa mesma visão de mundo. Ela ficou três anos sem vida sexual, por achar que não lhe trazia benefícios. “Nunca foi algo agradável. Para mim, é mecânico”, diz. Namorando há duas semanas, Sandra acaba de voltar a fazer sexo, já que gosta do novo namorado. “Mas troco por um encontro com os amigos fácil”, diz. Por intermédio da rede, o sociólogo americano David Jay, 27 anos, deu início ao movimento assexual. Ele criou em 2001 o site Asexuality Visibility and Education Network (Aven). No primeiro ano, a página com informações sobre assexualidade registrou 50 pessoas. Hoje são dez mil membros, com links em 12 idiomas. “Vivemos em uma cultura na qual as pessoas têm de assumir que são loucas por sexo. Isso é complicado para os assexuais”, disse Jay à ISTOÉ. “Não decidimos gostar ou não de sexo, nascemos assim.” Ele acredita que cada vez mais os assexuais reconhecerão a própria assexualidade e falarão abertamente sobre o tema.
A sexóloga Ana Maria Zampieri, autora do livro Erotismo, sexualidade, casamento e infidelidade (Ed. Summus), concorda: “A diversidade sexual, que se expandiu com a revolução gay, tornou o cenário favorável para o grupo dos assexuais aparecer.” Segundo ela, terapeuta de casais há 35 anos, pessoas que amam o parceiro mas não o desejam sexualmente sempre estiveram presentes no consultório. “A diferença é que, no passado, isso só era revelado durante o casamento e ficava relacionado ao tempo de convivência”, diz. Como hoje as pessoas casam mais tarde – ou nem casam –, a indiferença ao sexo fica evidente.
Mas o ginecologista Gerson Lopes, coordenador da Associação S.a.b.e.r. – Saúde, Amor, Bem-estar e Responsabilidade, alerta que a falta de libido é uma disfunção sexual que precisa de tratamento terapêutico. “É importante uma avaliação psicológica para saber se quem se classifica como assexual não está mascarando problemas sérios”, diz. O desejo minguado pode ser patologia quando causado por traumas (leia quadro). Quem vive bem trocando uma maratona nos lençóis por um cineminha não precisa se preocupar. Talvez a assexualidade seja apenas o sinal de que um mundo tão sexualizado está à procura de um ponto de equilíbrio. E de que as pessoas precisam se acostumar com as diferenças.



A Malhação ID  abordava um mundo complexo e pouco desconhecido, é o mundo do Alê, personagem assexual vivido pelo ator William Barbier.
Resolvi então pesquisar um pouco mais sobre a HSDD ou Desordem do Desejo Sexual Hipoativo para apresentar a vocês.
O que é a assexualidade?
Alfred Kinsey originalmente definiu o grupo que ele nomeou assexuais como pessoas que não possuíam atração sexual por outras pessoas. É importante entender que aqui o sentido do termo “atração sexual” é o mesmo de interesse ou desejo. Assim assexual é quem não tem atração/interesse/desejo sexual por outras pessoas.
Confusão no Comportamento Assexual
Acreditava-se que alguém (preferencialmente homem) que não sentia desejo sexual outras pessoas era doente. E esta doença estava em alguma parte do seu corpo já que a mente sempre foi tratada como algo que transcende o corpo em suas pulsões e desejos. A grande maioria das doenças altera nossa comportamento de alguma forma. Por isso as pessoas (quando ainda achavam que assexualidade era uma doença) viam os assexuais com perfis estereotipados bem característicos: anti-sociais,  afeminados,  rudes,  indelicados,  desafetivos,  entre outros.
Entenda melhor os indivíduos assexuados acessando o www.assexualidade.com.br
Aí você se pergunta, e isso é tão comum assim? Bem… vamos às estatísticas…
Três quartos dos pacientes que procuram o Centro de Medicina Sexual da Universidade de Boston não sentem qualquer desejo sexual, diz Irwin Goldstein, diretor da instituição, que também é editor do periódico “The Journal of Sexual Medicine”. “Chamamos isso de desordem do desejo sexual hipoativo (HSDD, na sigla em inglês)”, explica ele. Porém, a falta de interesse por sexo não é necessariamente uma desordem ou sequer um problema. A não ser, apressa-se a acrescentar Goldstein, que isso cause sofrimento, ao, por exemplo, causar conflitos no casamento ou na relação amorosa.
Em 2004, o psicólogo canadense Anthony Bogaert analisou uma pesquisa feita com 18 mil britânicos e chegou à conclusão de que 44% das pessoas que não tinham interesse em sexo estavam casadas, viviam com parceiros ou já haviam passado por uma das opções. Porém, o estudo mostra que até 1,1% dos adultos podem ser assexuais ou não ter atração sexual duradoura.
No Brasil, o Projeto Sexualidade desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) realizou uma pesquisa com sete mil pessoas e foi descoberto que 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens não fazem sexo e não sentem falta de fazer.
Certo ou errado?
Pode-se pensar que ao evitar o sexo e todas as emoções e responsabilidades que o acompanham, sem falar dos riscos à saúde, os assexuados podem ter uma vida comparativamente mais fácil.
“Mas creio que nós trocamos tudo isso por um tipo diferente de problema”, diz Jay. “O sexo é peça central da vida de várias formas, e um dos verdadeiros desafios para quem é assexuado (lê-se assexual) é tentar descobrir onde se encaixar”.
Leia outros depoimentos no HSDD – Pessoas Assexuadas
A comunidade no Orkut: Assexual, assexuais – sobre, atualmente com 221 membros descreve:
Há vários tipos indivíduos assexuais. Podendo ser divididos por grupos: um grupo A tem direção sexual, mas sem atração romântica, um grupo B tem atração romântica mas não tem direção sexual, um do grupo C tem ambos, e o grupo D, nenhum.
#FicaDica
Com frequência recebemos projetos de Sexualidade desenvolvidos em nossas escolas estaduais. Que tal acrescentar uma discussão sobre os indivíduos assexuais? O comportamento e os problemas vivenciados por essas pessoas poderão  servir de análise, bem como descoberta para nossos jovens.




''Olha só gente que interessante''


''Alguns gostam sexualmente de mulheres, outros de homens. Eles, de nenhum dos dois''

                            
Hoje em dia, existem diversos tipos de opção sexual. Entre eles, o Entrevendo destaca hoje um dos mais curiosos: os assexuais. Indivíduos que não sentem atração nem por mulheres quanto por homens, ou seja, não sentem atração sexual. É meio difícil de entender, mas existem diversos grupos de pessoas que se declaram assexuais. Como exemplo, temos a AVEN (Asexual Visibilty of Education Network - "Rede de Educação para a Visibilidade Assexual") e o portal brasileiro Refúgio Sexual.

A assexualidade não está no simples fato de não saber qual sexo optar para se relacionar, mas na falta de atração por ambos os sexos. Um assexual nunca sente vontade de fazer sexo com ninguém e não sente falta disso. Algo estranho, já que uma das necessidades do ser humano é a da interação e a da própria reprodução. A comunidade AVEN, já citada antes, também determina o grau de assexualidade de um indivíduo. Com base no Wikipedia
um assexual do tipo A tem direção sexual, mas sem atração romântica, um tipo B tem atração romântica mas não tem direção sexual, um do tipo C tem ambos, e o tipo D, nenhum.

Por mais que isso pareça maluco, os assexuais não deixam de ser pessoas como todos nós e merecem respeito independentemente de sua opção sexual. Vá entender esse mundo...

Os assexuados: conheça a tribo que defende o direito de não transar

Michael Doré tem 28 anos e nunca beijou. Nem pretende. Beijos, carinhos e qualquer forma de contato íntimo lhe causam repulsa. “O sexo me enoja”, diz. “Sou um assexual convicto.” É quase impossível imaginar que um cara como ele, charmoso, bem-sucedido — é um matemático norueguês e PhD da Universidade de Birmingham, na Inglaterra —, sequer pense em transar. Ainda mais nos dias de hoje, em que sexo e orgasmo são quase uma obrigação. E, antes que você se pergunte o que há de errado com Michael, ele mesmo responde: “Não, não sou gay, não fui abusado na infância, nem tenho problemas hormonais. Eu simplesmente não gosto de transar”. Assim como ele, a pedagoga mineira Rosângela Pereira dos Santos, o bancário americano Keith Walker e uma legião de assexuados dos mais diferentes cantos do planeta começam a sair do armário. São homens e mulheres de todas as idades, perfeitamente capazes de fazer sexo, mas sem nenhum apreço pela coisa. Gente que, graças ao apoio da Aven (Asexual Visibility and Education Network), rede que luta pela visibilidade dos assexuados no mundo, conseguiu se unir para levantar a bandeira da abstinência e lutar para que a assexualidade seja reconhecida como uma quarta orientação sexual (além de héteros, homos e bissexuais).
Sob o slogan “It’s o.k. to be A”
Sob o slogan “It’s o.k. to be A” (algo como “tudo bem ser assexuado”), essa turma tem frequentado as passeatas gays de Nova York, São Francisco, Londres e Manchester. No grupo, lutando contra o preconceito em relação aos que não gostam de transar, há desde aqueles que nunca tiveram uma relação sexual na vida, até os que fazem sexo por obrigação, para não perder o parceiro. “Por assexual entende-se apenas aquele que não sente atração sexual, não o que não é capaz de se envolver”, explica a socióloga Elisabete Oliveira, que fez do assunto tema de seu doutorado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. “Existem os assexuais românticos e os não românticos. O primeiro grupo consegue se apaixonar, casar e até ter filhos — desde que não haja sexo envolvido. O segundo não gosta de carinhos e não se sente apto a se apaixonar.” A libido é uma energia vital que pode ser canalizada para o trabalho
Esses dois grupos também podem ser classificados como libidinosos ou não. “Ser assexual não significa, necessariamente, não ficar excitado”, afirma o bancário americano Keith Walker, 37 anos. “Muitos de nós se masturbam, mas não estabelecem relação entre isso e o sexo. É apenas uma maneira de relaxar e aliviar o stress”, diz. Segundo a psicóloga paulista Tânia Mauadie Santana, hoje é comum que a energia que antes era sexual seja canalizada para outras áreas da vida. “A libido é uma energia vital, o que não necessariamente se manifesta só nos órgãos sexuais. O desejo pode ser direcionado para o trabalho, a comida e as atividades físicas”, diz.
Com as recentes investidas no chamado Viagra feminino — comprimido à base de flibanserina que promete devolver a libido à mulher que a perdeu e apresentá-la a que nunca teve —, a comunidade médica tem falado muito em “desejo sexual hipoativo”. O termo, catalogado há mais de 30 anos pela Organização Mundial da Saúde como uma “disfunção sexual”, tem conotação pejorativa para assexuados, que, com razão, não querem ser vistos como doentes. “Quem pratica sexo costuma ter humor melhor, pois o ato libera hormônios de ação antidepressiva. Mas a falta dele não chega a ser um problema de saúde. Ninguém vai morrer por isso”, afirma Tânia Santana. Segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, a assexualidade só requer tratamento quando gera sofrimento. “Se a falta de desejo ou o excesso dele impedir alguém de ser feliz, aí, sim, deve-se falar em tratamento. Caso contrário, não há por quê”, afirma o médico.
Para mostrar (e entender) que é possível ser feliz sem sexo, Marie Claire se cadastrou em redes e sites de relacionamento onde assexuais trocam ideias, causas e bandeiras. No Brasil, o site Refúgio Assexual, criado pelo pernambucano Julio Neto, de 19 anos, é o principal local de convergência dessa turma. “Muitos chegam aos fóruns com sentimento de culpa. É compreensível. Na sociedade em que vivemos hoje, em que se usa o sexo para vender de geladeiras a refrigerantes, é quase um crime não querer transar”, diz ele.
“Cheguei a pensar que fosse gay” - Michael John Doré, 28, matemático
“Até os 11 anos de idade, eu e meus amigos éramos todos parecidos, brincávamos das mesmas coisas e tínhamos ‘nojo’ de beijo de língua e sexo. Aos 12 anos, esses mesmos garotos passaram a ficar fascinados por mulheres. Falavam sobre elas o tempo todo, idealizavam como seria transar e folheavam revistas de sacanagem. Eu não conseguia entender o que, de uma hora para outra, havia mudado tanto entre eles. Na minha cabeça, havia a possibilidade (e a esperança) de que, cedo ou tarde, eu também fosse me sentir como eles. Cheguei a pensar que era gay. Mas, se as mulheres não me atraiam sexualmente, os homens, muito menos. Então, aos 16 anos, quando todos meus amigos e amigas só falavam e pensavam em sexo, passei a me considerar assexual. E, temendo o estranhamento das pessoas, guardei comigo esse segredo.
Ainda assim, vivi vários episódios de bullying na escola. Estranhando minha falta de interesse nas garotas, meus colegas de classe me excluíam da turma, pegavam no meu pé e diziam que eu era gay — o que, para mim, era ainda mais dolorido. Dez anos se passaram entre a minha ‘autodescoberta’ e a minha capacidade de revelar isso aos amigos mais próximos. Foi um período muito complicado, pois eu não só tinha de lidar com minha assexualidade, algo que nem entendia direito, como me apontavam como algo que eu não sou. Com o tempo, entendi que pessoas ignorantes não conseguem diferenciar homossexualidade de assexualidade.
Abri a verdade para minha família
Em julho deste ano, decidido a participar da parada GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) de Londres, com um grupo de assexuais que luta pelo direito de não transar, abri a verdade para minha família. Eles me deram muito apoio e ficaram felizes por mim. Minha irmã, inclusive, decidiu ir comigo a uma parada GLBT em Manchester, um mês depois. Acho que a pergunta que eu mais ouço quando conto que sou assexual é: ‘Por que você tem a necessidade de se definir dessa forma?’. Pelo simples motivo de que gosto de entender quem eu sou. A maioria das pessoas — assexuais ou não — também pensa assim. Muitos encontram alívio quando descobrem que não estão sozinhos, que não são únicos. Além disso, me assumir como assexual e participar ativamente da comunidade é um bom jeito de conhecer parceiras assexuais. Eu sou um assexual romântico — teria um relacionamento com uma mulher. Mas ela deve ser, necessariamente, assexual também. O sexo para mim é repulsivo e eu só me relacionaria com uma pessoa que não me cobrasse qualquer tipo de contato íntimo. Nunca na minha vida fiquei ou transei com uma garota. Em nenhum momento da minha vida, até aqui, tive vontade. Nem a menor curiosidade.”
Eles podem se apaixonar e até transar, mas não sentem prazer nenhum
“Odiei o sexo desde a 1ª vez” - Rosângela Pereira dos Santos, 32 anos, pedagoga
“Tenho 32 anos, estou solteira e sou formada em pedagogia, mas trabalho em um projeto ambiental do estado de Minas Gerais. Fui filha única até os 23 anos de idade, quando nasceu meu irmão do segundo casamento da minha mãe. Coincidência ou não, foi nesse mesmo ano que perdi minha virgindade. Fui uma adolescente tardia. Até os 14, brincava com Barbies — hoje, algo impensável para a nova geração. Mas não foi por isso que demorei para transar. Sempre desconfiei que havia algo diferente comigo. Não sentia o prazer que minhas amigas diziam sentir quando saíam com rapazes. Achava que tinha algum tipo de problema e, por ser muito jovem, não conseguia conversar sobre isso com ninguém. Sofria sozinha. E, como imaginei que aconteceria, odiei o sexo desde a primeira vez. Foi com um namorado da época. Eu gostava dele, adorava beijá-lo, fazer e receber carinho... Teoricamente, todos os ingredientes necessários para dar certo. Mas, sem sexo, não deu. Por mim, passaria o resto da vida sem transar e seria feliz! Mas gosto de namorar e, infelizmente, é quase impossível encontrar — pelo menos aqui no Brasil — alguém igual a mim. Até por isso não consigo entrar em um relacionamento sério há cinco anos. Isso significaria enfrentar uma pressão enorme para transar e, fatalmente, me deixaria infeliz. Sei que meu problema não é físico. Já fui a médicos, fiz várias contagens hormonais e não há absolutamente nada errado comigo.
Eventualmente, eu até transo. A última vez aconteceu há três meses. O rapaz não é meu namorado, mas gosto bastante dele. É uma ótima companhia. Gosto dos homens e sei que posso perfeitamente me apaixonar. Curto sair para jantar, ir ao cinema, tomar cerveja, fazer carinho, beijar bastante... mas não suporto qualquer tipo de contato sexual. Tudo que envolve a genitália me incomoda e é extremamente desagradável: sexo oral, penetração... tanto que nunca tive um orgasmo enquanto transava. Por outro lado, a masturbação não é um problema para mim. Sou perfeitamente capaz de atingir o orgasmo me estimulando sozinha. É uma ótima forma de aliviar o stress do dia a dia, sem nenhuma conotação sexual. Antes, o termo “assexual” no Google só trazia artigos sobre bactérias
Nas poucas vezes em que tentei falar sobre o assunto com pessoas próximas, sei que me rotulavam como o estereótipo de garota esquisita, complexada, isolada, coisa que eu não sou! Não foram momentos fáceis. Hoje em dia, só amigas mais íntimas sabem de minha ‘situação’. Faz pouco tempo, cerca de um ano, que finalmente me descobri como assexual. Foi através de pesquisas na internet: procurando entender melhor meu comportamento ‘diferente’, encontrei, em fóruns de discussão, pessoas como eu. Percebi que não estava sozinha! Apesar de ser um alívio pessoal, sei que não posso falar sobre esse assunto com qualquer pessoa. Minha família, por exemplo, não faz ideia do que seja a assexualidade — e tenho certeza que a maior parte dos brasileiros também não. Até cinco anos atrás, por exemplo, ao digitar a palavra “assexual” no Google, só apareciam artigos sobre amebas e bactérias.”
“Fico excitado. só não sinto o mínimo tesão” - Keith Walker, 37, bancário
“Descobri que sou assexual há seis anos. Meu primeiro casamento tinha acabado de terminar. Ficamos quatro anos juntos, mas, nesse tempo todo, só transamos umas cinco vezes. Depois de casarmos, no entanto, minha ex-mulher não conseguiu mais lidar com minha falta de interesse em sexo. E, para falar a verdade, eu também não. Me sentia como um peixe fora d’água, não só pela cobrança de minha mulher, mas porque todos os meus amigos e familiares tinham uma vida sexualmente ativa e, como a maioria das pessoas, viviam falando disso. Não sou impotente. Pelo contrário, ficar excitado é algo perfeitamente normal para mim, basta concentração. O que não tenho é tesão. A ejaculação, para muitos assexuais, é uma simples forma de alívio físico. E é justamente o que acontece comigo. Eu era apaixonado pela minha ex-mulher, mas não sentia desejo por ela (como não sinto, aliás, por ninguém). Não conseguimos entrar em um acordo saudável para ambos, e o relacionamento terminou. A partir daí, resolvi procurar apoio na internet, buscando pessoas como eu e, assim, fazer parte de um grupo, finalmente.
Mas não foi o que aconteceu. Pelo menos não no princípio. Como eu nunca tinha ouvido falar em assexualidade — nem a palavra era familiar —, acabei entrando para um grupo de celibatários. Nunca achei que pudesse ser gay, pois sempre me apaixonei romanticamente por mulheres, só não tinha vontade de fazer sexo com elas. Não demorou para que eu descobrisse que os celibatários eram pessoas completamente diferentes de mim: tinham desejo sexual, mas o reprimiam por motivos religiosos. Eu não, eu simplesmente não tinha vontade de fazer sexo. Não sentia tesão. Ou seja, nem lá eu me encaixava. Mas foi graças a um dos rapazes que eu conheci no grupo que descobri minha tribo. Percebendo minha total falta de libido, ele me falou sobre os assexuais, o trabalho da rede Aven e sugeriu que eu procurasse o grupo.
No Brasil, 9% das mulheres não acham o sexo importante para o casamento
Moro em Washington e trabalho em um banco. Até antes de encontrar a Aven, quase não conversava com meus colegas sobre minha condição ‘diferente’ da maioria. Não é fácil lidar com um assunto que nem eu próprio tinha conhecimento. As poucas pessoas com as quais falava disso até tentavam me ajudar. Mas, no fundo, só atrapalhavam. Entendiam o que eu sentia, e cedo ou tarde, tentavam me ‘converter’ — como se essa fosse uma escolha minha. E não é. A única certeza que sempre tive é que sou heterossexual. Sei que muitos assexuais heterossexuais são questionados sobre sua orientação. Há um senso comum de que quem não gosta de sexo só pode ser gay — e reprimido. Mas isso é puro preconceito. Sou perfeitamente capaz de me apaixonar. E só me apaixonei por mulheres até hoje. Já fiz sexo muitas vezes, em especial quando estava na faculdade. Fazer sexo é algo que se espera de um homem jovem, estudante, que mora sozinho. E foi o que acabei fazendo durante os relacionamentos que tive na época. Transei não por desejo, mas por me sentir na obrigação de cumprir um ‘ritual’ presente em todos os namoros.
Foi só quando conheci a Aven — e, através dela, tive contato com pessoas parecidas comigo — que descobri que não precisava mais me sujeitar a isso. Há mais gente no mundo que, assim como eu, detesta sexo. Essas pessoas me entendem e aceitam. Tanto que foi através das reuniões e debates promovidos pela Aven que conheci minha atual mulher, uma moça linda e doce, sem a qual hoje não me imagino. Assim como eu, ela é assexual sem libido. Nos gostamos muito e, eventualmente, trocamos beijos e carícias, sem qualquer apelo erótico. É um amor tão lindo e tão puro que a cerimônia de nosso casamento, há três anos, foi transmitida em tempo real pelo da Aven — decisão que tomamos juntos para trazer mais visibilidade para nossa causa.
Somos muito felizes e até falamos em filhos. Se decidirmos ter filhos naturais (e não adotivos), não vejo por que não fazer sexo para engravidar. Nesse caso, não estaríamos nos divertindo — estaríamos apenas procriando. Não sou incapaz de fazer sexo. Pelo contrário, é uma opção não praticá-lo. E isso é muito libertador.”
Marie Claire

'' Britânica de 21 anos conta como é ser assexuada ''

Jenni Goodchild é assexuada, o que não a impede de ter um namorado Foto: Pioneer Productions / BBC Brasil

                                                    Britânica de 21 anos conta como é         ser assexuada.

Jenni Goodchild é assexuada, o que não a impede de ter um namorado


A britânica Jenni Goodchild, de 21 anos, se considera assexuada por não ter nenhum interesse em sexo, ainda que tenha um namorado."Para mim, basicamente, (ser assexuada) quer dizer que eu não olho para as pessoas e penso 'hmmm, eu gostaria de ter relações sexuais com você'. Isso simplesmente não acontece", diz ela.   A estudante da Universidade de Oxford faz parte de 1% dos britânicos que se identificam como assexuados. A assexualidade é descrita como uma orientação, diferentemente do celibato, que é visto como uma escolha. "As pessoas me perguntam: 'se você nunca experimentou, como você sabe?' Bem, se você é heterossexual, você já experimentou ter relações com uma pessoa do mesmo sexo? Como você sabe que não ia gostar então? Você simplesmente sabe que você não tem interesse nisso, independentemente de ter experimentado ou não", diz ela.
Na Grã-Bretanha, há um website dedicado à comunidade assexuada, a Asexual Visibility and Education Network (Rede de Visibilidade e Educação Assexual), que faz questão de frisar que a diversidade entre eles é tão grande como entre a comunidade "sexual".
O sociólogo Mark Carrigan, da Universidade de Warwick, explica que há, por exemplo, assexuados românticos e não românticos. "Assexuados não românticos não tem nenhum tipo de relação romântica, então em muitos casos eles não querem ser tocados, não querem nenhum tipo de intimidade física", diz Carrigan. "Os assexuados românticos não sentem desejo sexual, mas sentem atração romântica. Então, eles veem alguém e não respondem sexualmente a essa pessoa, mas podem querer ficar mais próximos, conhecê-la melhor, dividir coisas com ela."
Namorado
Este é o caso de Jenni, que é hetero-romântica e, apesar de não ter nenhum interesse em sexo, ainda sente atração por pessoas do sexo oposto e está em um relacionamento com Tim, de 22 anos.
Tim, no entanto, não é assexuado. "Muitas pessoas chegam a perguntar se eu não estou sendo egoísta de mantê-lo em uma relação que não vai satisfazê-lo e dizem que ele deveria namorar alguém como ele, mas ele parece bem feliz, então eu diria que ele é quem deve decidir isso", diz Jenni.
Segundo Tim, ele está gostando de passar tempo com Jenni e de conhecê-la melhor concentrando as atenções no lado romântico do relacionamento. "A primeira vez que Jenni mencionou durante uma conversa que era assexuada, meu primeiro pensamento foi: 'hmmm, isso é um pouco estranho', mas eu sabia que não deveria fazer suposições sobre o que isso significava", explica Tim. "Eu nunca fui obcecado por sexo. Eu nunca fui do tipo que tem que sair à noite e tem que achar alguém para ter uma relação sexual, só porque é isso que as pessoas fazem... então, não estou tão preocupado com isso."
Ainda assim, a relação de Jenni e Tim tem um lado físico, já que eles se abraçam e se beijam para expressar seu afeto um pelo outro.
Estudos científicos
A assexualidade foi objeto de poucos estudos científicos, segundo Carrigan, porque até 2001 não havia uma comunidade assexuada e, portanto, um objeto a ser estudado. "Houve muitas pesquisas sobre transtorno do desejo sexual hipoativo, que é classificado como um transtorno de personalidade, e é quando você não sente atração sexual e sofre por conta disso. Então, muitas pessoas que depois foram definidas como assexuadas podem ter sido vistas anteriormente como alguém que sofria desse transtorno", diz Carrigan.
A falta de pesquisas sobre o assunto dá margem a especulações sobre por que algumas pessoas não sentem desejo sexual. "Há pessoas que definitivamente veem isso como uma doença, que pode ser curada com remédios, outras perguntam se já chequei meus níveis hormonais, como se essa fosse uma solução óbvia", diz Jenni. "E há pessoas que vão ainda mais longe. Já me perguntaram se fui molestada quando era criança, que não é uma pergunta apropriada. E eu não fui."
Preconceito e marginalização
Apesar de assexuados às vezes sofrerem discriminação, Carrigan diz que o preconceito é diferente da "fobia" que lésbicas e gays podem sofrer. "É mais uma questão de marginalização, porque as pessoas não entendem a assexualidade." "A revolução sexual mudou muito a forma como lidamos com o sexo e como pensamos nisso como sociedade. Algumas pesquisas me dão uma sensação de que há um grau de sexualização excessiva na sociedade, as pessoas simplesmente não entendem a assexualidade", diz Carrigan.
Segundo a especialista em relacionamentos e sexualidade Pam Spurr, as pessoas conseguem falar sobre baixa ou alta libido, mas a assexualidade não é um assunto muito discutido abertamente. Carrigan acha que uma comunidade assexuada mais visível pode ter um efeito nas pessoas que não são assexuadas. "Não havia um conceito de heterossexualidade até haver homossexuais. Foi só quando algumas pessoas passaram a se definir como homossexuais que passou a fazer sentido para outras pessoas pensar em si mesmas como heterossexuais", explica Carrigan. "Se é verdade que até 1% da população é assexuada e mais pessoas vão saber que eles existem, será que isso vai mudar a maneira como pessoas 'sexuais' se veem? Porque não há hoje uma boa palavra para definir pessoas que não são assexuadas."

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